Não tão iguais aos outros: Afrobrasileiros

É como se não fossemos tão brasileiros quantos os “eurobrasileiros”

Cientistas e movimentos lançam carta proposta por outro modelo agrícola

As reflexões apontam para a ampliação e o fortalecimento da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida nos vários espaços da sociedade..

Mudanças Climáticas: de cavalos e barcos a carros e motos

No período das cheias ficávamos praticamente ilhados.

Marãiwatsédé:

um direito inegociável, intransferível e inalienável para os Xavantes.

(Des)conhecimento e (des)considerações

sobre os povos e territórios indígenas de Mato Grosso

sábado, 10 de abril de 2010

AS COTAS E EU - the end

Os estudos comprovam, e inclusive o jurista na entrevista citada no primeiro post , afirma que os “pobres dos pobres são em sua maioria negros”. Logo, se o sistema de cota fosse para população de baixa renda, por conseqüência, beneficiaria principalmente negros e pardos, porém a política teria outro viés.

Ela deixaria claro que os negros e outras minorias não acessam a universidade porque são pobres, ou seja, porque o Estado não cumpriu o seu papel.

E quanto ao acesso ao mercado de trabalho e os baixos salários, isso não tem jeito. É puro pré - conceito do nosso povo brasileiro, isso é fato.

Não precisamos provar nada a ninguém. Temos capacidade intelectual igual a outros grupos étnicos, mas temos poucas oportunidades, pois somos socioeconomicamente excluídos e marginalizados. E mesmo quando temos nível superior continuamos vítimas de um racismo mascarado dentro de empresas e outros espaços.


Observe que sempre justificando nossa presença mostrando que “trabalham” para diminuir as desigualdades sociais e étnicas, por isso em suas empresas tem negros, índios, mulheres, homossexuais, etc. Se são profissionais, porque a necessidade de justificar a presença deles? Por que salários menores e funções inferiores? Alguém aí, ainda acha que isso não tem nada ver com racismo ou preconceito racial?

Ah sim, voltando ao caso da minha irmã. Tenho que confessar que embora eu não admita prá ela (para que ela não se acomode e fique se lastimando. Porque não mudaria a realidade). Sei que o fato de ela ter desistido do curso em Pontes e Lacerda é resultado do fatores acima.


Somos pobres, não tínhamos (e ainda não temos) como bancar a mensalidade do ônibus para que ela fosse todo dia e também não tínhamos condições de alugar um casa para que ela ficasse lá. Tudo isso prá não mencionar ao materiais didáticos.

Sei que talvez, bem mais prá mim faz toda diferença do que para as outras 3 irmãs minha: ser negras, filhas de agricultores e termos entrado na universidade pública tendo estudando toda vida em escola pública tem outro significado.

No caso da Antonia em especial, o fato dela ter entrado na universidade não pelo sistema de cotas quando este já estava sendo implantado, e ser acusada de estar lá por causa das cotas, só confirmou que o sistema de cotas da forma que está posta serve muito mais para aumentar os (pré)-conceitos que existem na nossa sociedade contra as minorias. E pouco, muito pouco mesmo, para reparar a ausência de Estado no cumprimento do seu dever e nas injustiças sociais contra a população negra do Brasil.

Que fique bem claro, esses posts são apenas uma forma de dizer o que penso sobre o tema, pois na maioria das vezes prefiro calar quando sou perguntada.

Muitas vezes, mesmo tendo o que dizer é melhor não dizê-lo. Muitos não estão a fim de ouvir ou entender os porquês. Apenas querem perguntar para mostrar que se importam. Mas estes já têm as respostas. E quando nossas respostas contraria o esperado, parecem ficar ofendidos. Não querem mais conversa. Imagina, uma negra ser contra as cotas? veja se tem cabimento?

Tudo bem, aprendi que devemos ouvir a opinião dos outros, mas que jamais devemos abrir mão das nossas. A não ser que perceba que está equivocado. E se estiver equivocado, é um ato de grandeza, dignidade, honestidade, humildade e sabedoria reconhecer o equívoco e é claro mudar de idéia.

Ainda é cedo. Quem sabe em um futuro próximo mudo de opinião quanto ao sistema de cotas. Mas e daí, que diferença faz a minha opinião, não é mesmo?
Nossa!!! Quanta bobagem, heim? Aff...

Próximo!!!!!

AS COTAS E EU - parte II

(continuação do post anterior )Então, assim, hoje 5 anos mais tarde. Depois de ouvir, ler e ser perguntada sobre o assunto, não sou totalmente contra, tão pouco a favor das cotas para negros, pardos ou qualquer minoria nas universidades ou em qualquer lugar.


Continuo pensando que a questão não é bem o que está se fazendo, mas sim, como o governo está conduzindo isso. Penso que não basta reservar vagas para nós negros, pardos, índios ou qualquer minorias. O ponto chave da questão é o antes e o depois. Ou seja, o como é feito isso.

É bem verdade que não sei qual o caminho correto para “corrigir essas desigualdades”, ou mesmo se existe um caminho correto, mas não é bem este que estamos trilhando.
Por que não se trata apenas de reservar vagas para os negros, mas sim de dar condições pra que eles entrem, permaneçam e saiam dignamente.


Nesse sentido, um caminho melhor seria uma cota socioeconômica: para alunos que sempre estudaram em escolas públicas e que cuja família tem renda inferior a 2, 3, 4 salários mínimo, por exemplo. E os aprovados por esse sistema receberiam uma auxilio para transporte, alimentação, moradia e materiais didáticos.


É preciso mais do que reservar 25%, 50% ou 75% de vagas para as minorias. Há uns dois anos assisti a uma reportagem que mostrava que cerca de 40% dos alunos selecionados pelo sistema de cotas abandonaram o curso. E sabem por quê? Porque as famílias não conseguiram pagar o transporte, a moradia, os livros e outros materiais do curso. Havia aluno que estava passando fome, pois tinha aula de manhã e tarde, que o impedia de trabalhar. A família não tinha condições de bancar e a pessoa passava o dia com um pacotinho de biscoito porque não tinha recursos para almoçar.


Esse é só um dos casos, que prova que não basta reservar cotas de vagas para nós, mas dar condições prá que estudemos dignamente. Prá mim é igualmente cruel achar que uma pessoa que falta às aulas por falta de transporte, mora mau, se alimenta mal, não tem acesso a todo material necessário para realizar as atividades exigidas consiga as mesmas notas que os que não têm esses problemas.


Penso que é também cruel achar que 70% ou 90% deles irão até fim, ou serão aprovados. Exagero um pouco, eu sei, mas prá mim isso é como empurrar alguém para o precipício. E isso intelectualmente é muito triste para uma pessoa, porque prá parte da sociedade somos inferiores intelectualmente, inclusive por isso alegam são contra as cotas. “porque não estamos capacitados para entrar na universidade”. Então se fracassarmos, desistirmos do curso ou reprovarmos, é simplesmente porque não temos capacidade intelectual.


É como se a culpa fosse dos negros viver em péssimas condições sociais e econômicas e estudar nas escolas públicas das periferias desprovidas de infraestrutura e corpo docente qualificado.

AS COTAS E EU – parte I

Outro dia o Vicente Puhl me enviou uma interessantíssima entrevista concedida à Carta Capital pelo jurista Fábio Konder Comparato, professor aposentado da Universidade de São Paulo e um dos defensores da proposta. Ele afirma que a adoção de cotas raciais nas universidades públicas “não apenas é constitucional, como a ausência desse tipo de política representa uma inconstitucionalidade por omissão”. Comentei com o André o que eu achava ele disse que daria um artigo o que eu falava. Bom, não escrevi um artigo, mas resolvi ocupar esse meu espaço divagando sobre o assunto.


Algumas vezes, quando o Vicente trabalhava na Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional - FASE-MT e eu no Grupo de Trabalho Amazônico – GTAMT, em uma dessas justifiquei um dos porquês que eu era contra o sistema de Cotas citando o episódio em que o Taisir, reitor da Universidade do Estado de Mato Grosso- UNEMAT apontou para a minha irmã Antonia em um dos seus discursos de campanha pela re-eleição que era graças a briga dele enquanto reitor pelas cotas na UNEMAT que ela estava ali.

Aquilo não correspondia a verdade, pois a minha irmã é negra sim e passou e passou no vestibular mas não pelo sistema de cotas. Mas por mérito dela mesmo. Ela não havia concorrido “a vaga reservada” para ela já que era a única negra da sala. Mesmo assim, posso dizer que não para o sr. Reitor em campanha pela reeleição, “ELA NÃO ESTARIA LÁ...” como para outros tantos naquele auditório que a olharam com a mesma certeza: Ela estava lá graças ao sistema de cotas para negro e pardos.

Nesse sentido, na época (2005) este era um dos meus argumentos mais relevantes para não concordar com o sistema de cotas. Ou seja, já era a forma com que estava sendo implementada. A forma com que os negros dali em diante seria tratado numa universidade.


Lembro-me que dizia, que os negros e pobres não estão nas universidades porque estudam em escolas públicas que são de péssima qualidade e reforçava que somos tão capazes quanto outros grupos étnicos e que ainda assim, muitos de nós conseguíamos entrar e citava o meu exemplo de ter participado de 3 vestibulares e ter passado nos 3 entre os 10 primeiros lugares (1º, 8º e 4º lugares respectivamente).


Muitos diziam que eu estava indo contra o meu povo a minha raça. Que estava sendo egoísta porque eu era a exceção. Até ouvi um “você não se considera negra?(Pode? Quanta ignorância). Os negros já sofreram demais”.
Não era e não é nada disso. Eu só queria e ainda quero que nós negros e outras minorias étnicas excluídas da sociedade sejam incluídas sem que fossem consideradas incapazes, mas que o estado assumisse seu fracasso e omissão no cumprimento do seu papel de garantir o direito básico a todo cidadão, entre eles, o direito a educação de qualidade conforme reza a Constituição. Será que é tão dificil entender ou pelo menos respeitar minha opnião?
Estou aberta a ouvir, mas ainda não me convenceram do contrário... somos livres para opinar, não? Se não, "vou errando enquanto o tempo me deixar"...
Próximo!!!!!

sexta-feira, 2 de abril de 2010

(In)sustentável?

Deroní Mendes - Se tem uma coisa que gosto de ver na TV é propaganda. Acho interessante não só as imagens, como também as musiquinhas e a mensagem final. Aquela que as vezes gruda na cabeça da gente. “oi, simples assim”, “todo seu”, “amo muito isso”, etc..

Devo confessar que não raro fico me debatendo com meus botões quanto ao comercial inteiro e a mensagem final. Sei lá...Não entendi, uai. Mas tudo bem, a ficha demora prá cair de fato muitas vezes não concordo. Nada a ver.

Ontem mesmo estava ouvindo (veja bem, ouvindo) uma propaganda da Gerdau. A música de fundo era bonita e imagino que as imagens também devem ser. (ainda não vi. De novo, Só ouvi). Bem, mas a mensagem final dizia que podemos confiar na Gerdau, pois cada vergalhão de aço que produz é feito de forma sustentável. Pensei comigo: Como assim Sustentável?


Sim. Porque a sustentabilidade pressupõe assegurar os recursos naturais para estas e as futuras gerações o que é claro, não é possível com atividades no setor mineral. Os recursos minerais não são renováveis...
Mas também, aí pensei: Porque estou questionando isso? É o tal "marketing verde". Hoje toda e qualquer empresa produz de forma sustentável. Todas são verdes. Todo mundo é ambientalista. E todo mundo trabalha, produz, e vive de forma sustentável e tudo que fazemos é economicamente eficiente, ecologicamente prudente e equilibrado e socialmente justo. Tudo muito sustentável.


Que lindo, não? Até eu acreditei (imagine se tivesse visto o comercial rsrsr). Investem rios de dinheiro para nos convencer com essas propagandas lindas...
Falar, escrever ou montar um comercial é simples e fácil. Ver ou ouvir um comercial ecologicamente
prudente, socialmente justo e economicamente eficiente de uma atividade derivada da mineração prá mim ainda e continuará sendo algo insustentável.
Afinal, e as futuras gerações? De Onde vem o aço que se fabrica o vergalhão? Como era e está a localidade e como estará daqui 20, 30, 50 100 anos. ?
Mas é serio. Você pensa o contrário?
Se sim, tudo bem, afinal os “ Produtos Gerdau agora estão certificados com Selo Ecológico Falcão Bauer.” Ufff. E eu aqui preocupada...



Fontes:
Foto 01: http://blog.fundacaoestrela.com.br
foto 02: http://scielo.br/
Foto 03: www.gel-eng.com.br/imagem/mineracao.jpg