O Globo - Eles andavam por essas terras muito antes das naus portuguesas aportarem em nosso litoral. Apesar do tempo, pouco se conhecia sobre as populações indígenas brasileiras até o Censo 2010. Numa pesquisa inédita, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) constatou que 896,9 mil índios viviam no país em 2010, divididos em 305 etnias e falando 274 línguas. A população indígena no país cresceu 205% desde 1991, quando foi feito o primeiro levantamento no modelo atual. À época, os índios somavam 294 mil. O número chegou a 734 mil no Censo de 2000, 150% de aumento na comparação com 1991.
O resultado do estudo de 2010, o primeiro a checar a etnia e que foi divulgado na manhã desta sexta-feira, supera a literatura antropológica, que estimava em 220 o número de etnias e 180 tipos de línguas indígenas. Sob a lupa dos pesquisadores, contudo, o índio continua nu quando comparado ao restante da população: 52,9% deles não tinham qualquer tipo de rendimento e a proporção é ainda maior nas áreas rurais: 65,7%.
O censo mostra ainda que, até 2010, 6,2% não tinham nenhum tipo de registro de nascimento, mas 67,8% eram registrados em cartório. Já entre as crianças indígenas nas áreas urbanas, as taxas são próximas às da população em geral, ambas acima dos 90%. Dos 896,9 mil índios computados no recenseamento, 63,8% viviam em área rural e 36,2% em área urbana. O total inclui os 817,9 mil indígenas declarados no quesito cor ou raça do Censo 2010 (e que servem de base de comparações com os Censos de 1991 e 2000) e também as 78,9 mil pessoas que residiam em terras indígenas e se declararam de outra cor ou raça (principalmente pardos, 67,5%), mas se consideravam “indígenas” de acordo com aspectos como tradições, costumes, cultura e antepassados.
O estudo estatístico identificou 505 terras indígenas, cujo processo de identificação teve a parceria da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) no aperfeiçoamento da cartografia. Essas terras representam 12,5% do território brasileiro (106,7 milhões de hectares), onde residiam 517,4 mil indígenas (57,7% do universo pesquisado). Apenas seis terras indígenas tinham mais de 10 mil índios, 107 tinham entre mil e 10 mil, 291 tinham entre cem e mil, e em 83 residiam até cem indígenas. A terra com maior população indígena é a Yanomami, no Amazonas e em Roraima, com 25,7 mil pessoas.
Ao investigar pela primeira vez o número de etnias indígenas (comunidades definidas por afinidades linguísticas, culturais e sociais), encontrando 305 etnias, das quais a maior é a Tikúna, com 46.045 integrantes ou 6,8% da população indígena. Com relação às 274 línguas faladas, o censo apurou que dos indígenas acima de 5 anos, 37,4% falavam uma língua indígena. Já o percentual de índios que falam português é de 76,9%. Mesmo com uma taxa de alfabetização mais alta do que a constatada no Censo 2000 (73,9), a população indígena ainda tem nível educacional mais baixo que o da população não indígena (76,7%).
A baixa remuneração é outro problema enfrentado pelos povos indígenas. Em 2010, 83% dos índios, com idade acima de 10 anos, recebiam até um salário mínimo ou não tinham rendimentos, sendo o maior percentual encontrado na região Norte (92,6%), onde 25,7% ganhavam até um salário mínimo e 66,9% não tinha rendimento. Em todo o país, apenas 1,5% da população indígena, com 10 anos ou mais de idade, ganhava mais de cinco salários mínimos, percentual que caía para 0,2% nas terras indígenas.
Somente 12,6% dos domicílios eram do tipo “oca ou maloca”, enquanto que, no restante, predominava o tipo “casa”. Mesmo nas terras indígenas, ocas e malocas não eram muito comuns: em apenas 2,9% das terras, todos os domicílios eram desse tipo e, em 58,7% das terras, elas não foram observadas.
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