Poço de Carbono Juruena - André Alves - Dois agricultores do Noroeste de Mato Grosso foram destaque no Simpósio de Técnicas de Recuperação de Áreas Degradadas, realizado em Cuiabá nos dias 21 e 22 de setembro. O evento faz parte da comemoração do Dia da Árvore, promovido pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema), Centro das Indústrias Produtoras e Exportadoras de Madeira de Mato Grosso (CIPEM) e o Instituto Ação Verde.
O agricultor Luiz Vieira do Nascimento, que chegou em Cotriguaçu no início dos anos 90 é referência em várias regiões do Brasil pelo uso sustentável que faz do seu lote, no assentamento Nova Esperança. Numa área de 18 hectares ele cultiva cerca de 80 espécies plantadas entre cacau, café, pupunha, cupuaçu, guaraná e diversos tipos de árvores. Luizão, como é mais conhecido, também cria porco, cabrito, gado, carneiro, peixe e abelha.
“Não dá riqueza, mas dá pra viver bem”, afirma o homem de 55 anos que nasceu no Paraná, cresceu no Nordeste e foi acampado sem terra até conseguir o lote no assentamento e cometer a mesma atitude que muitos assentados fazem: desmatar para comprovar ao Incra a ocupação do lote. Mas com sua vivência e com apoio técnico do Projeto de Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade nas Florestas de Fronteira do Noroeste de Mato Grosso, executado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e Secretaria de Estado de Meio Ambiente de Mato Grosso (SEMA), financiado pelo GEF, e há um ano, pelo Poço de Carbono Juruena, ele teve a oportunidade de fazer a diferença.
Em quase toda a área desmatada, ele formou sistemas agroflorestais, permitindo diversificar sua produção e recuperar o dano. Sua iniciativa foi tão bem sucedida que é constante a visita de agricultores e técnicos a sua propriedade para ver e estudar de perto como a produção diversificada ambientalmente correta é economicamente viável. “Eu trabalho na roça o dia todo, mas sempre na sombra porque as plantas e árvores que plantei me protegem do sol”.
Técnicos da EMBRAPA, da Sema e do Poço de Carbono Juruena, além de extrativistas da RESEX Guariba-Roosevelt irão visitar a propriedade do Luizão no dia 28. Atividades como uma oficina sobre o plantio, manejo e o monitoramento de sistemas agroflorestais e do carbono dessas áreas estão previstas para este encontro. Possíveis desdobramentos para projetos de continuidade e de apoio as comunidades de agricultores e extrativistas do Noroeste são esperadas a partir desta reunião.
Luizão também já viajou a várias regiões do país para falar da forma de produção da sua propriedade, onde muitas árvores plantadas há pouco mais de dez anos, já ultrapassam 60 centímetros de diâmetro. “Essas árvores são uma aposentadoria para mim e o futuro dos meus filhos”, afirma o agricultor que voltou a estudar e que neste ano termina o ensino fundamental, e que tem como meta cursar Biologia.
Apesar do sucesso de sua propriedade, o agricultor reclama que faltam incentivos do governo para que mais agricultores possam ter sistemas agroflorestais. “Se cada agricultor familiar tivesse no mínimo três hectares de sistemas agroflorestais em sua propriedade iria haver uma revolução na economia dos municípios”, esclarece.
Cooperativa de produtores de castanha
Já Irineu Bach, gerente de produção da Cooperativa dos Agricultores do Vale do Amanhecer (Coopavam), em Juruena, mostrou como a coletividade está mudando a realidade do assentamento. A cooperativa teve início em 2008 com a proposta de ser uma alternativa econômica para os assentados. O apoio da Sema e do PNUD foram fundamentais para alavancar a produção de castanha-do-Brasil que é vendida para empresas de alimentos de quatro estados e para o Programa de Aquisição de Alimentos da Conab, que destina a castanha para merenda escolar de seis municípios do Noroeste de Mato Grosso.
Para garantir a produção, o projeto Poço de Carbono Juruena, desenvolvido pela Associação de Desenvolvimento Rural de Juruena (ADERJUR) e com patrocínio do Programa Petrobras Ambiental vem ajudado a fortalecer parcerias. A madeireira Rohden Indústria Lígnea e a Natura Cosméticos são dois exemplos bem sucedidos. Parcerias com povos indígenas como os Rikbaktsa e os Cinta-Larga também estão sendo fechadas para garantir o estoque do produto.
O agricultor Irineu Bach conta que no início muitos vizinhos do assentamento eram contra a idéia da cooperativa de produção de castanha por não acreditar no potencial. Atualmente, a produção de 90 toneladas de amêndoas sem casca só é limitada pela disponibilidade do fruto na região. “O projeto Poço de Carbono Juruena está produzindo mil mudas de castanha para o assentamento, além de 2 milhões de mudas de diversas espécies nativas para o Município de Juruena, mas a demanda hoje já é muito maior, porque cada vez mais tem agricultores querendo plantar castanheiras para vender os frutos no futuro”, finaliza.
Foto
Legenda: Luizão ensinando técnicas de sistemas agroflorestais
Crédito: Laércio Miranda
0 comentários:
Postar um comentário