André Alves - Poço de Carbono Juruena: Empresa já compra castanha-do-Brasil da Coopavam para linha de cosméticos.
A Cooperativa dos Agricultores do Vale do Amanhecer (Coopavam), localizada em Juruena, noroeste de Mato Grosso, acaba de fechar contrato com a empresa de cosméticos Natura para fornecimento de castanha-do-Brasil. Em 2011 a cooperativa, formada unicamente por agricultores familiares do assentamento Vale do Amanhecer, irá fornecer 15 toneladas da amêndoa para a empresa. Mas a meta é que a produção triplique no próximo ano, comercializando diretamente o óleo da castanha equivalente a produção de 50 toneladas de amêndoa.
Para a utilização sustentável de matérias-primas amazônicas - que são usadas em diversos produtos, especialmente os da linha Natura EKOS, a empresa desenvolve um trabalho que envolve cerca de 1.300 famílias em 19 comunidades na Amazônia que produzem e comercializam diversos produtos extraídos da floresta, como açaí, breu-branco, cupuaçu, priprioca, murumuru, buriti, castanha-do-Brasil, entre outros, que são industrializados em cosméticos e vendidos no Brasil e em outros países.
Além da compra da castanha, a empresa apoiará a Coopavam na aquisição de equipamentos e realizará treinamento com os cooperados para a produção do óleo da castanha em Juruena. Atualmente, a COOPAVAM vende amêndoas e biscoitos de castanha do Brasil para a merenda escolar de 6 municípios da região Noroeste de Mato Grosso e para empresas do sudeste e sul do país. A partir de 2012, a COOPAVAM venderá óleo vegetal para a Natura, o que possibilitará fazer o aproveitamento da torta remanescente da extração do óleo para produzir farinha de castanha e outros subprodutos. Esta estratégia possibilitará triplicar o preço da castanha com a venda do óleo e dos derivados da farinha.
Para garantir a produção, a cooperativa está ampliando a sua fábrica além de instalar nas próximas semanas uma micro-usina para extração de óleo. “Nós estamos comprando a castanha de vários lugares e principalmente dos povos indígenas, além da coleta em nossa reserva legal e áreas vizinhas”, explica Airton Benini, presidente da Coopavam. “Além disso, nós sempre buscamos pagar o melhor preço possível pelo produto”, complementa.
A cooperativa atualmente compra castanha de várias comunidades de agricultores familiares, extrativistas e também de povos indígenas das bacias do rio Juruena, como os Rikbaktsa, Apiacás-Caiabi-Mundurucu, do Rio Aripuanã, como os Cinta-larga e Suruí, além dos seringueiros da RESEX Guariba-Roosevelt para atender seus clientes consumidores de amêndoas e de biscoitos. “O que tiver de oferta de castanha de qualidade nos interessa. Demanda nós temos, o que nos falta, às vezes, é o produto”, esclarece Benini.
A Coopavam nasceu em 2008 da união de esforços dos assentados que possuem uma Reserva Legal coletiva de 7.200 hectares permitindo que eles tivessem uma área relativamente grande para fazerem manejo florestal de produtos não-madeireiros, como a castanha-do-Brasil. Parcerias com o INCRA e o Projeto de Conservação e Uso Sustentável das Florestas do Noroeste do Mato Grosso, desenvolvido pela SEMA/MT e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD/Brasil) garantiram a construção das primeiras instalações da fábrica. Atualmente a Coopavam conta com 25 cooperados trabalhando diretamente na produção da castanha e recebendo por produção ou em diárias, garantindo uma renda extra de 30 reais por dia em média..
Parceria com Poço de Carbono Juruena
Desde o ano passado, o projeto Poço de Carbono Juruena, executado pela Associação de Desenvolvimento Rural de Juruena (ADERJUR), com patrocínio da Petrobras, vem auxiliando a cooperativa a se estabelecer no mercado e melhorar a produção de castanha. Além de auxiliar nos contratos com três empresas de gêneros alimentícios do Paraná, São Paulo e Minas Gerais, o projeto Poço de Carbono fez a ponte dos agricultores com o Plano de Aquisição de Alimentos (PAA) da Conab. Somente com o componente Formação de Estoque são R$ 100 mil por ano que a estatal empresta a juros subsidiados à cooperativa. Além disso, a castanha em amêndoa é distribuída a seis municípios da região por meio do programa para o consumo de 7 mil crianças. Ao todo, em 2010 foram adquiridas pela Coopavam 87 toneladas de castanha in natura, gerando uma renda bruta superior a R$ 500 mil reais. Em 2011 já foram processadas mais 75 toneladas.
Paulo Nunes, coordenador técnico do projeto Poço de Carbono Juruena explica que a Coopavam vem se fortalecendo em estrutura e pessoal, garantindo um crescimento consolidado, conquistando credibilidade para buscar parceiros maiores. “A Natura é uma empresa séria que trabalha com outras comunidades da Amazônia, do mesmo nível da Coopavam.
É um ânimo aos cooperados saber que estão trabalhando com uma empresa com uma visão socioambiental”, reforça. Além disso, o Poço de Carbono apoiou a Cooperativa para o alcance do benefício de isenção do ICMS através do programa Programa de Desenvolvimento Industrial e Comercial de Mato Grosso (PRODEIC) vinculado à Secretaria do Estado de Indústria Comércio, Minas e Energia (SICME) do governo do Mato Grosso. Como a Coopavam já conseguiu isenção do ICMS, ela poderá elevar o preço da castanha pago aos extrativistas a níveis impraticáveis para os atravessadores. Este será um dos resultados mais importantes já alcançados até agora pela Câmara Técnica do Programa de Apoio as Cadeias Produtivas da Sócio-biodiversidade que trabalha com a castanha do Brasil em Mato Grosso, argumenta Nunes.
Paulo Nunes ressalta também que é o primeiro contrato da empresa com uma comunidade em Mato Grosso e que será um dinheiro que circulará no município, fortalecendo a economia da região. “É um dinheiro que vai circular no Noroeste, oriundo de um recurso florestal que até há pouco tempo era desprezado na região”, afirma.
Além da circulação do dinheiro em si, a Coopavam está fortalecendo a conservação florestal da sua reserva legal. No começo da empreitada havia quatro coletores do assentamento na Reserva Legal e atualmente já são mais de 25 agricultores, que nos meses de dezembro a maio, em média, trabalham na reserva coletando castanha. Ao percorrer os castanhais eles estão também conhecendo e protegendo a área de invasores. Essa proposta atraiu empresas como a Rohden Indústria Lígnea e outras da região, que trabalham com manejo florestal sustentável, e já firmaram parcerias para permitir que os cooperados possam coletar as castanhas em suas áreas privadas.
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