sábado, 10 de abril de 2010

AS COTAS E EU - parte II

(continuação do post anterior )Então, assim, hoje 5 anos mais tarde. Depois de ouvir, ler e ser perguntada sobre o assunto, não sou totalmente contra, tão pouco a favor das cotas para negros, pardos ou qualquer minoria nas universidades ou em qualquer lugar.


Continuo pensando que a questão não é bem o que está se fazendo, mas sim, como o governo está conduzindo isso. Penso que não basta reservar vagas para nós negros, pardos, índios ou qualquer minorias. O ponto chave da questão é o antes e o depois. Ou seja, o como é feito isso.

É bem verdade que não sei qual o caminho correto para “corrigir essas desigualdades”, ou mesmo se existe um caminho correto, mas não é bem este que estamos trilhando.
Por que não se trata apenas de reservar vagas para os negros, mas sim de dar condições pra que eles entrem, permaneçam e saiam dignamente.


Nesse sentido, um caminho melhor seria uma cota socioeconômica: para alunos que sempre estudaram em escolas públicas e que cuja família tem renda inferior a 2, 3, 4 salários mínimo, por exemplo. E os aprovados por esse sistema receberiam uma auxilio para transporte, alimentação, moradia e materiais didáticos.


É preciso mais do que reservar 25%, 50% ou 75% de vagas para as minorias. Há uns dois anos assisti a uma reportagem que mostrava que cerca de 40% dos alunos selecionados pelo sistema de cotas abandonaram o curso. E sabem por quê? Porque as famílias não conseguiram pagar o transporte, a moradia, os livros e outros materiais do curso. Havia aluno que estava passando fome, pois tinha aula de manhã e tarde, que o impedia de trabalhar. A família não tinha condições de bancar e a pessoa passava o dia com um pacotinho de biscoito porque não tinha recursos para almoçar.


Esse é só um dos casos, que prova que não basta reservar cotas de vagas para nós, mas dar condições prá que estudemos dignamente. Prá mim é igualmente cruel achar que uma pessoa que falta às aulas por falta de transporte, mora mau, se alimenta mal, não tem acesso a todo material necessário para realizar as atividades exigidas consiga as mesmas notas que os que não têm esses problemas.


Penso que é também cruel achar que 70% ou 90% deles irão até fim, ou serão aprovados. Exagero um pouco, eu sei, mas prá mim isso é como empurrar alguém para o precipício. E isso intelectualmente é muito triste para uma pessoa, porque prá parte da sociedade somos inferiores intelectualmente, inclusive por isso alegam são contra as cotas. “porque não estamos capacitados para entrar na universidade”. Então se fracassarmos, desistirmos do curso ou reprovarmos, é simplesmente porque não temos capacidade intelectual.


É como se a culpa fosse dos negros viver em péssimas condições sociais e econômicas e estudar nas escolas públicas das periferias desprovidas de infraestrutura e corpo docente qualificado.

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