quarta-feira, 22 de maio de 2013

Extrativistas acessam recursos da Conab para comercialização de castanha‏

 Extrativista da  Resex Guariba Roosevelt . Foto: Laércio Miranda

Pacto das Águas - Os extrativistas da Reserva Extrativista Guariba-Roosevelt, localizado entre os
municípios de Colniza e Aripuanã, no Noroeste de Mato Grosso, encontraram um caminho para comercializar a produção de castanha-do-Brasil sem precisar recorrer a atravessadores. Um contrato firmado entre a Conab, por meio do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) Formação de Estoque e a Associação Dos Moradores Agroextrativista da Resex Guariba Roosevelt Rio Guariba – AMORARR garantiu um empréstimo de mais de 100 mil reais para que a associação possa pagar à vista a produção de cada família.

Com esse recurso os extrativistas podem vender diretamente a associação, que depois negocia a produção com empresas do comércio justo. Somente nesta safra, mais de 40 toneladas de castanha foram compradas pela associação com recursos do empréstimo da Conab. A Associação tem um ano para pagar o recurso com juros de apenas 3%. Pedro, morador da resex, explica que havia um desânimo entre a população em relação ao extrativismo. “A gente trabalhava o ano todo e ainda ficava devendo o marreteiro (atravessador). Os atravessadores eram a única opção que a Resex possuía para a comercialização devido a distância aos centros compradores aliados as dificuldades de transporte e de comunicação.

Com apoio do Projeto Pacto das Águas, patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Ambiental, os extrativistas passaram a ser capacitados em boas práticas de manejo de castanha-do-Brasil (também conhecida como castanha do Pará) e serem assessorados na elaboração de projetos, além de ajudar a buscar parceiros comerciais justos. “Isso só foi possível porque os moradores se organizaram em associação, estimulados pelas nossas capacitações, e também devido aos apoios feitos pelo projeto Pacto das Águas e anteriormente pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)”, explica Emerson de Oliveira, técnico do projeto. “Com isso a Resex produz uma castanha do tipo dry, de ótima qualidade, atendendo aos padrões das grandes empresas de alimentos e cosméticos”, complementa. 

Nos dois últimos anos, as comunidades do Guariba e do Roosevelt produziram cerca de 60 toneladas de castanha por safra. Uma quantidade quase três vezes maior que há dez anos e com um preço mais justo e os extrativistas recebendo na entrega da produção. Com a seringa, outro importante produto tradicional da reserva, nas duas últimas safras foi extraído mais de vinte toneladas de látex. Essa atividade chegou a ser interrompida no início do século pelo baixo valor de mercado e dificuldade de venda, estimulando os moradores mais jovens a buscar trabalhos fora da comunidade. “Hoje em dia já tem valor a nossa produção. Ano passado eu comprei uma moto e paguei à vista, com o dinheiro da produção da castanha. E outras pessoas daqui também”, explica Pedro Pereira Sobrinho. 

Já para Ailton Pereira dos Santos, presidente da Amoraar, o projeto Pacto das Águas trouxe outro efeito bastante positivo. “Agora as pessoas ficam na comunidade e isso é muito importante. O seringueiro sai de manhã para cortar seringa e à tarde está em casa, com a castanha é a mesma coisa”, esclarece.

Saiba mais sobre a Resex Guariba-Roosevelt
A Reserva Extrativista Guariba Roosevelt é uma Unidade de Conservação, criada pelo Decreto 9.521 de 1996 e Lei Estadual 7.164, ampliada pela Lei 8.680/2007. A UC está localizada nos municípios de Aripuanã, e Colniza. Os seringueiros dos rios Guariba e Roosevelt fazem parte da história da exploração de borracha nativa no estado do Mato Grosso e há registros históricos de ocupação da região de pelo menos um século. A principal fonte econômica dos moradores se baseia na agricultura e na extração do látex, óleo de copaíba e castanha-do-Brasil.

Apesar da criação e do apoio do governo de Mato Grosso, principalmente por meio do projeto “Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade das Florestas do Noroeste de Mato Grosso” executado pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SEMA) em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a Reserva ainda enfrenta problemas fundiários, sociais e de infraestrutura.

Projeto Pacto das Águas
O Pacto das Águas apoiou a produção de 735 toneladas de castanha do Brasil entre 2007 e 2012, provenientes do manejo de castanhais nativos. De 2007 até agora, foram produzidas 50 toneladas de borracha natural, sendo 14 toneladas somente nos últimos meses, gerando, somente em 2012, uma renda de R$ 200 mil do manejo dos seringais e R$ 850 mil do manejo dos castanhais para as comunidades locais. A produção é comercializada para cooperativas e empresas do Brasil, e parte é utilizada para subsistência e rituais indígenas. As ações do Pacto das Águas estão direcionadas para as terras indígenas Erikbaktsa, Japuíra, Escondido, do povo Rikbaktsa, e Zoró e a Resex Guariba Roosevelt, abrangendo no seu conjunto uma área aproximada de 880 mil hectares e 2.500 pessoas, todas habitantes da região Noroeste da Amazônia Mato-grossense.

O projeto envolve os municípios de Juína, Juara, Cotriguaçu, Colniza, Aripuanã e Rondolândia. Após ingressarem no projeto, os índios Zoró já são os maiores produtores de castanha do Estado do Mato Grosso, com uma produção média de 160 toneladas por ano. Mais do que geração de renda, o projeto junto com os seus parceiros locais está construindo alternativas concretas ao desmatamento e degradação florestal, valorizando a floresta e os povos que a habitam.

FOTO: LAÉRCIO MIRANDA

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