sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Projeto avalia potencial de carbono em sistemas agroflorestais em Mato Grosso


Poço de Carbono/ André Alves  - Qual o potencial de seqüestro de carbono e de conservação da biodiversidade em um sistema agroflorestal (SAF)? Está é uma pergunta que o projeto Poço de Carbono Juruena, desenvolvido pela Associação de Desenvolvimento Rural de Juruena (Aderjur), com patrocínio do Programa Petrobras Ambiental, irá responder em breve. Desde o início de agosto, técnicos estão fazendo medições de carbono em propriedades de todas as comunidades abrangidas pelo projeto. Além dos SAF, também está sendo medido o carbono de áreas de reflorestamento.


De acordo com Paulo Nunes, coordenador técnico do projeto, o levantamento irá demonstrar a viabilidade técnica e prática do seqüestro de carbono pela agricultura familiar utilizando-se sistemas agroflorestais. Estudos anteriores realizados na região Noroeste apontaram que, cada hectare de SAF com doze anos pode ter até 201,6 m3 de estoque de biomassa e uma projeção de até 100 toneladas de carbono equivalente em 30 anos. Estima-se que as florestas tropicais nativas estoquem de 100 a 400 toneladas de carbono. “Nós estamos trabalhando com mais de 260 famílias há quase dois anos e a comprovação do seqüestro de carbono apontará uma alternativa eficiente ambiental e econômica para a agricultura familiar”, explica.

Além do potencial de estoque de carbono, o levantamento irá apontar também a diversidade de espécies de plantas existentes nos SAF. Um SAF biodiverso, com cerca de 50 espécies diferentes consegue atrair várias espécies de animais, sobretudo pequenos primatas e aves. Além disso, a diversificação de espécies plantadas como pupunha, cupuaçu, cacau e café são a garantia de uma segurança alimentar para as famílias além de possibilitar uma renda de até R$ 24 mil por hectare em 12 meses aos agricultores.

Para fazer este levantamento os técnicos do Poço de Carbono Juruena passaram por uma capacitação realizada em junho pelo consultor Jorge Vivan. Durante uma semana foram capacitadas cerca de 80 pessoas entre técnicos, agentes ambientais e agricultores, que poderão fazer o monitoramento individual do estoque de carbono em cada propriedade. Além da capacitação foi elaborado um manual com o passo-a-passo para o levantamento de dados ecológicos e econômicos de uso do solo em propriedades rurais que adotam Sistemas Agroflorestais.

O projeto Poço de Carbono teve início em janeiro de 2010 e além de envolver mais de 260 famílias no município de Juruena tem a meta de plantar 2 milhões de mudas de espécies frutíferas e florestais. A expectativa dos coordenadores do projeto é que até o final do ano exista cerca de 660 hectares de SAF plantados. 

A adesão dos agricultores ao projeto é espontânea e vem aumentando com os resultados obtidos pelas famílias que já participam. Além das mudas, os agricultores recebem orientação técnica, capacitações e participam de intercâmbios em outras experiências consolidadas na região. Outro importante trabalho relacionado à redução de emissões de carbono vem sendo realizado pelo projeto através do uso de uma serraria portátil, que aproveita a madeira desvitalizada e que nos últimos seis meses serrou 220 m3 de madeira em 40 propriedades de agricultores familiares.

Além da formação dos sistemas agroflorestais, o projeto incentiva também a Cooperativa dos Agricultores do Vale do Amanhecer (Coopavam) e a Associação de Mulheres Cantinho da Amazônia (AMCA) que trabalham com a castanha-do-Brasil e derivados como o biscoito de castanha. Para garantir o produto em quantidade e qualidade, os técnicos do projeto ajudam a viabilizar parcerias com empresas, como a madeireira Rohden Indústria Lígnea, que permite o acesso da Coopavam em sua área privada para que os ouriços da castanha possam ser coletados, e a empresa de cosméticos Natura, que atualmente é a principal parceira desta iniciativa. 

As duas associações também vendem parte de sua produção para merenda escolar dos municípios da região Noroeste por meio do Programa de Aquisição de Alimentos da Conab. Parcerias com povos indígenas como os Rikbaktsa e os Cinta-Larga também estão sendo fechadas com apoio do Poço de Carbono Juruena para garantir o estoque do produto. O objetivo final deste trabalho é garantir a conservação da floresta, através da valorização de produtos florestais não madeireiros e do uso múltiplo dessas áreas.

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